Agustina Bessa Luís, mulher extraordinária, grande escritora, de notável capacidade e figura incontornável da literatura portuguesa morreu, no dia 3 de Junho, aos 96 anos, no Porto, sendo sepultada, na Régua. Deixamos, aqui, uma homenagem a este ser humano admirável que encontrava nas pequenas coisas do mundo inspiração para os seus romances.
O seu nome estreou-se nas letras, em 1948, com o romance” Mundo fechado”, e em 1954 destaca-se com a publicação de “ A Sibila” que lhe valeu os Prémios Delfim Guimarães e Eça de Queirós, aos quais sucederam-se outros grandes prémios, ao longo dos anos, tais como o Prémio de romance e novela, em 1983 com a obra” Os meninos de ouro” e “ O príncipe da incerteza”, em 2001.
Pessoa afável com uma conversa fascinante, olhava para o mundo com uma visão crítica, mas também clara e muito lúcida daquilo que era a literatura. Era uma escritora que pretendia estar “ por dentro da vida”, mas que também exprimia as sua emoções, ideias e discursos de forma articulada, adaptando-se aos meios em que se encontrava. Em cada obra são apresentados retábulos sobre o que era a vida e a sociedade do século XX que ela projeta e constrói, levando a considerar toda a sua produção “ uma constante transformação e renovação à procura de um caminho diferente”.
Em toda a sua obra, a escritora revela, num misto de realidade e ficção, um conhecimento profundíssimo de todos os estratos sociais entre Douro e Minho, em todos os momentos e áreas sociais do século XX, e apresenta, em simultâneo com o enredo que o leitor procura instintivamente, não menos importante, a descrição de personagens, ambientes e aforismos. Através das obras que dialogam com o seu tempo, perpassa, através das personagens, uma visão crítica do poder e da forma como as relações de poder marcam as relações humanas.
Escritora com uma produção fantástica e um vastíssimo conhecimento da língua portuguesa teve o condão de se manter fiel a ela própria e de se afirmar, quando o poder queria que as mulheres se confinassem a papeis que ela recusou, optando por ignorar qualquer opinião acerca da sua pessoa ” A imagem que ficar de mim?…será a que eles quiserem”, afirmou, aquando de uma entrevista, no ano passado.
Posto isto, A Bibliorodo, convida-te a (re)descobrires esta Dama da literatura, através das obras que constam da biblioteca e deliciares-te com o seu conteúdo, perpetuando, desta forma toda a sua obra e memória.
Um bem haja, Agustina.